DE Armindo Rodrigues (1904-1993), poeta injustamente esquecido
Deixo-vos um poema que é também um lema...
Juro nunca me render
Pela minha terra clara
e o povo que nela habita
e fala a lingua que eu falo,
juro nunca me render
Pelo menino que fui
e o sossego que desejo
para o velho que serei,
juro nunca me render
Pelas arvores fecundas
que nos dão frutos gostosos
e as aves que nelas cantam,
juro nunca me render.
Pelo céu que não tem margens
e as duas nuvens boiando
sem remorso nem receio,
juro nunca me render
Pelas montanhas e rios
e mares que os rios buscam,
com o seu murmúrio fundo,
juro nunca me render
...
Pelas lágrimas dos pobres
e o pão escasso que comem
e o vinho rude que bebem,
juro nunca me remder.
Pelas prisões em que estive
e os gritos que lá esmaguei
contra as mão enclavinadas,
juro nuna me render
Por meus pais e meus avós
e os avós dos avós deles,
com o seu suor antigo,
juro nunca me render
Pelas balas que vararam
tantos peitos de homens justos
por amarem muito a vida,
Juro nunca me render
Pelas esperanças que tenho,
Pelas certezas que traço
Pelos caminhos que piso,
juro nunca me render.
Pelos amigos queridos
E os companheiros de ideias
Que são amigos também,
juro nunca me render.
Pela mulher a quem amo,
Pelo amor que me tem,
Pela filha que é dos dois,
Juro nunca me render
E até pelos inimigos,
que odeiam a liberdade
e por isso não são livres,
juro nunca me render.