terça-feira, 27 de março de 2012

O REGRESSO AO CANDEEIRO A PETROLEO...

Carlos Silva garante que há pessoas em situação ainda pior e que nem candeeiros a petróleo usam em casa. “Tenho uma cliente que já só usa velas para iluminação. Só gasta um pouco de gás para cozinhar. Para comer, nem de noite usa electricidade. No fundo, até é romântico”, graceja, arrependendo-se de imediato da piada.
Outro item com muita saída são os sacos de água quente, segundo revela. De resto, a própria organização Mundial de Saúde (OMS) diz que metade dos idosos portugueses não tem meios para manter as casas quentes.
José Manuel de Carvalho, de 51 anos e 38 de trabalho ao balcão, é ainda mais expressivo ao falar da crise que afecta principalmente os mais idosos e os reformados das redondezas.
“Nem mesmo quando o Mário Soares mandou apertar o cinto a situação era tão má como agora!”, queixa-se, com profundo azedume na voz, e sem hesitar na resposta quando questionado sobre se tem alguma esperança no futuro: “Tenho esperança que haja pancada! Tem que haver pancada para isto se abrir… Venha quem vier, seja a extrema-direita seja o Bloco de Esquerda”, afirma, sustentando a tese com o facto de “os ricos, que têm dinheiro, se estarem a encolher”.
“A insatisfação das pessoas é enorme”, diz, sublinhando que “o que eles fazem é só apertar o pescoço ao povo com mais taxas”.
Manuel de Carvalho é o desânimo em pessoa quando fala da crise que afecta os moradores das proximidades da loja que também conhece pelos nomes e cujo relacionamento há muito deixou de ser apenas comercial para se tornar cumplicidade e afectividade.
“Olhe, eles bem nos tramaram quando anexaram a taxa de radiodifusão ao recibo da água. Quando o pagamento era separado, muita malta pura e simplesmente não pagava.”
“Só se fala em milhões nos jornais e nas televisões! Os milhões que alguns ganham e as fraudes de milhões”, conclui, abatido.
Carlos Silva remata os argumentos do colega com um pesaroso “não vejo nenhuma luzinha ao fundo do túnel”.
As dificuldades para os consumidores de menor rendimento vão continuar a agravar-se, dado que a previsão de aumento das tarifas de electricidade para os consumidores particulares aponta para uma subida média de 4% este ano devido ao adiamento excepcional para os anos seguintes de cerca de mil milhões de euros, de acordo com informações dadas recentemente pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).
A ERSE sublinha que a subida se deve ao “alisamento quinquenal dos sobrecustos com os Produtores em Regime Especial (PRE)” (energias renováveis) e a um decreto-lei que procede ao diferimento excepcional dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), num total de 1080 milhões de euros.
Segundo simulações da própria ERSE, a variação média de 4% vai repercutir- -se num acréscimo de 1,75 euros por mês numa factura média de cerca de 50 euros, já com a actualização do IVA para 23%, abrangendo a maioria dos consumidores domésticos portugueses, que são cerca de 4,7 milhões.
Em relação à tarifa social, o aumento, “foi fixado em 2,3%”. Ou seja, para cerca de 666 mil clientes, uma factura média mensal de 26 euros terá uma subida de 57 cêntimos, também já com o IVA a 23% incorporado.
Com apenas 50% da factura da electricidade a dizer respeito à energia verdadeiramente consumida, os portugueses de mais débeis recursos vão continuar a subsidiar os grandes produtores eléctricos.

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