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No início desta quarte-feira (14), Dieudonné foi detido pela polícia francesa para ser interrogado. Autoridades investigarão posicionamentos do humorista, acusado de apologia ao terrorismo. Entenda a história abaixo.>> Humorista ou antissemita? França quer proibir polêmico stand-up
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Dieudonné M’Bala M’Bala, conhecido apenas como Dieudonné, é uma das figuras mais polêmicas da cena do humor na França. Para alguns, ele é um comediante político perseguido pelo governo socialista de François Hollande. Para outros, é um antissemita que dissemina preconceitos e ódio contra os judeus. Midiático, ele atrai milhares de pessoas a seus shows de stand-up, e tem uma audiência na casa dos milhões em sites como o Youtube. Mas além da popularidade, suas piadas atraíram a ira das autoridades francesas. Ele criou um gesto, chamado "quenelle", que para muitos significa uma forma de fazer a saudação nazista. Ele diz que é apenas um gesto de crítica. Suas piadas com o holocausto e com judeus foram parar na Justiça, e ele foi condenado sete vezes, a multas que somam 65 mil euros.
Como um comediante que diz ser perseguido por suas piadas, era natural que Dieudonné participasse da marcha em Paris no último domingo. Ao chegar em sua casa, no entanto, ele não demorou a provocar seus leitores no Facebook. "Após essa marcha histórica, digo mais... lendária! Um momento mágico como o Big Bang que criou o universo! ...ou em um grau mais local, comparável à coroação de Vercingétorix [rei gaulês da antiguidade], eu enfim entro em casa. Sabe que essa noite, no que me diz respeito, eu me sinto como Charlie Coulibaly", escreveu. O texto, que compara o jornal "Charlie" com o sobrenome de um dos terroristas, "Amedy Coulibaly", gerou tantas críticas que ficou menos de uma hora no ar antes de ser apagado.
O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, classificou o comentário como "abjeto", e pediu que ele fosse investigado por apologia ao terrorismo. O caso estimulou o debate sobre os limites do humor na França. Muitos dos próprios fãs de Dieudonné condenaram a frase do comediante ao se comparar com um dos atiradores. O fato de ele ter escolhido exatamente o sobrenome do atirador que invadiu o mercado de produtos judaicos não ajuda com a sua ficha já corrida de acusações de antissemitismo. Mas outros questionaram se ele não estava apenas fazendo uma sátira, de forma não muito diferente que as polêmicas charges dos cartunistas assassinados. "Charlie Hebdo tem o direito de rir de tudo em seus desenhos enquanto Dieudonné não tem o direito à palavra. Isso é injusto", disse um dos fãs do comediante em um comentário em sua página do Instagram.
Não é a primeira vez que o governo Hollande se mobiliza contra o comediante. No ano passado, o ministério do Interior circulou um ofício pedindo para que todas as prefeituras cancelassem shows de stand-up do comediante com base nas leis de ordem pública. Ao responder ao ministro Cazeneuve, Dieudonné se colocou como vítima. Disse estar sendo perseguido pelo Estado, que, segundo ele, promove "linchamento midiático, interdição de espetáculos, controle fiscal e mais de 80 processos na Justiça" para calá-lo. "Estou sendo considerado como um Amedy Coulibaly quando não sou diferente de Charlie", disse. O governo francês, evidentemente, não concorda. Para o primeiro-ministro Manuel Valls, o que o comediante faz não é humor nem opinião, é crime. "O racismo, o antissemitismo, a apologia ao terrorismo não são opiniões, são delitos", disse Valls, segundo o jornal Le Figaro.
A França ainda debaterá muito as questões do limite do humor levantadas pelo atentado ao Charlie Hebdo. Os cartunistas podem fazer desenhos que grupos da população consideram ofensivos? Um comediante de stand-up pode fazer piadas que se parecem com apologia ao nazismo? Mas a marcha de domingo mostrou um ponto importante para o limite do humor: ele não
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