Texto traduzido e enviado pelo leitor Fernando Negro:
"Estudo feito por uma Equipa de Pesquisa da EIR ["Executive Intelligence Review"]
2 de Fevereiro - Nações ocidentais, lideradas pela União Europeia e pela Administração Obama, estão a apoiar um golpe abertamente neonazi com vista a uma mudança de regime na Ucrânia. Se o esforço for bem sucedido, as consequências irão estender-se muito para além das fronteiras da Ucrânia e dos seus estados vizinhos. Para a Rússia, tal golpe constituiria um casus belli, vindo como vem no contexto da expansão da defesa antimíssil da OTAN para a Europa Central e da evolução de uma doutrina EUA-OTAN de "Ataque Global Rápido", que presume que os Estados Unidos podem lançar um primeiro ataque preventivo contra a Rússia e a China e sobreviver à retaliação.
Os acontecimentos na Ucrânia constituem um potencial espoletar de uma guerra global que poderá rápida e facilmente escalar para uma guerra termonuclear de extinção. Na Conferência de Segurança de Munique deste fim-de-semana, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia Sergei Lavrov teve uma acalorada troca de palavras pública com o Secretário-geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen, na qual o último acusou a Rússia de "retórica belicosa" e Lavrov respondeu citando o programa de defesa antimíssil europeu como uma tentativa de assegurar uma capacidade de primeiro ataque nuclear contra a Rússia.
Nas suas declarações formais em Munique e uma semana antes no Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, Lavrov também criticou severamente os governos ocidentais por apoiarem organizações terroristas neonazis no seu zelo em colocar a Ucrânia sob controlo da União Europeia e da Troika para apertar a forca da OTAN em volta da Rússia.
No entanto, Lavrov subestimou o caso.
Desde que o Presidente Viktor Yanukovych anunciou que a Ucrânia estava a retirar os seus planos de assinar o Acordo de Associação da União Europeia em 21 de Novembro de 2013, organizações apoiadas pelo Ocidente constituídas por remanescências da colaboracionista nazi durante e imediatamente após a guerra Organização de Nacionalistas Ucranianos (ONU-B) e seus sucessores lançaram uma campanha de provocações com o objectivo de não apenas derrubar o governo do Primeiro Ministro Mykola Azarov, mas de derrubar o democraticamente eleito Presidente Yanukovych.
A Parceria de Leste da UE foi iniciada em Dezembro de 2008 por Carl Bildt e Radek Sikorski, os ministros dos negócios estrangeiros da Suécia e da Polónia, no seguimento da confrontação militar da Geórgia com a Rússia na Ossétia do Sul. A Parceria de Leste teve como alvo seis países que eram antigas repúblicas da União Soviética: três na região do Cáucaso (Arménia, Azerbeijão, Geórgia) e três na Europa Central de Leste (Bielorússia, Moldávia, Ucrânia). Não era intencionado que estes fossem convidados para uma adesão completa à UE, mas antes atraídos para uma posição em que estivessem sob o controlo da UE através dos chamados Acordos de Associação, cada um deles centrado num Acordo Profundo e Compreensivo de Mercado Livre (APCML). O principal alvo do esforço era a Ucrânia. Sob o Acordo de Associação negociado com a Ucrânia, mas não assinado, a economia industrial da Ucrânia teria sido desmantelada, o comércio com a Rússia teria sido ferozmente atacado (com a Rússia a terminar o seu regime de mercado livre com a Ucrânia, para impedir que os seus mercados fossem inundados através da Ucrânia) e os jogadores dos mercados europeus teriam se agarrado às exportações agrícolas e de matérias-primas da Ucrânia. O mesmo regime de austeridade mortífera que foi imposto aos estados mediterrânicos da Europa sob a burla do resgate da Troika teria sido imposto à Ucrânia.
Mais do que isto, o Acordo de Associação exigia "convergência" em assuntos de segurança, com integração em sistemas de defesa europeus. Sob tal acordo melhorado, os acordos de tratados de longo prazo sobre o uso por parte da Marinha Russa dos cruciais portos da Crimeia no Mar Negro teriam sido terminados, dando ultimamente à OTAN uma base avançada na fronteira imediata da Rússia.
Enquanto as reportagens ocidentais promoviam as manifestações na Praça da Independência de Kiev (Maidan Nezalezhnesti, ou Euromaidan como é agora chamada) como inicialmente pacíficas, o facto é que, desde o início, os protestos incluíram assumidos neonazis de núcleo duro, "hooligans" futebolísticos de direita e veteranos de guerra "Afghansy" das guerras no Afeganistão, na Chechénia e na Geórgia. De acordo com o membro do parlamento ucraniano Oleh Tsaryov, 350 ucranianos regressaram ao país vindos da Síria em Janeiro de 2014, depois de lutarem ao lado dos rebeldes sírios, incluindo grupos ligados à al-Qaeda como a Frente al-Nusra e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS).
Logo no fim-de-semana de 30 de Novembro-1 de Dezembro de 2013, os autores dos distúrbios estavam a atirar cocktails Molotov e apoderaram-se da Câmara Municipal de Kiev, declarando-a um "quartel-general revolucionário". Manifestantes do Partido Svoboda da oposição, anteriormente chamados Socialistas-Nacionalistas, marcharam sob a bandeira vermelha e negra da Organização de Nacionalistas Ucranianos de Stepan Bandera (ONU-B), os colaboradores nazis que exterminaram judeus e polacos como um adjunto da máquina de guerra nazi e em cumprimento das suas próprias ideias radicais sobre pureza étnica, durante a Segunda Guerra Mundial.
A máxima do Partido Svoboda, "Ucrânia para os ucranianos", era o grito de guerra de Bandera durante a colaboração da ONU-B com Hitler após a invasão nazi da União Soviética. Foi sob essa máxima que execuções em massa e limpezas étnicas foram cometidas pelos lutadores fascistas de Bandera. Fontes ucranianas relataram que o Partido Svoboda estava a efectuar treinos paramilitares durante o Verão de 2013 - meses antes do Presidente Yanukovych ter tomado a sua decisão de rejeitar o Acordo de Associação da UE.
O carácter neonazi, racista e anti-semita do Svoboda não desencorajou os diplomatas ocidentais - incluindo a Secretária de Estado Assistente dos EUA para os Assuntos Europeus e Euro-asiáticos Victoria Nuland - de se encontrarem publicamente com o líder do partido Oleh Tyahnybok, que tinha sido expulso do movimento Nossa Ucrânia em 2004 pelos seus discursos fortes contra "moscovitas e judeus" - usando nomes ofensivos e depreciativos para descrever ambos.
O reavivar fascista de Bandera tem vindo a decorrer à vista de todos desde a "Revolução Laranja" de 2004, quando Viktor Yushchenko foi instalado como Presidente da Ucrânia através de uma campanha de rua apoiada por interesses estrangeiros em muito financiada pela Fundação Renascença Internacional de George Soros e mais de 2,000 outras organizações não governamentais europeias e norte-americanas, depois de ter sido oficialmente declarado o derrotado numa luta presidencial renhida com Viktor Yanukovych. A 22 de Janeiro de 2010, uma das últimas acções de Yushchenko como Presidente, depois de perder a sua reeleição para Yanukovych por uma larga margem, foi nomear Stepan Bandera um Herói da Ucrânia, a qual é uma alta honra de Estado. A segunda mulher de Yushchenko, Kateryna Chumachenko, foi ela própria um membro do grupo juvenil da banderista ONU-B em Chicago, onde ela nasceu, de acordo com relatos de notícias. Nos anos 1980, Chumachenko chefiou os escritórios de Washington do Comité do Congresso Ucraniano da América (no qual a influência da ONU-B era grande na altura, de acordo com a Enciclopédia de Internet da Ucrânia) e do Comité Nacional de Nações Cativas, antes de se mudar para o Gabinete para os Direitos Humanos do Departamento de Estado. Em Janeiro de 2011, o Presidente Yanukovych anunciou que o estatuto de Herói da Ucrânia de Bandera tinha sido oficialmente revogado.
A ONU-B: Um Pouco de História
O legado da ONU-B de Bandera é crítico para entender a natureza da insurreição armada que agora decorre na Ucrânia. A Organização de Nacionalistas Ucranianos foi fundada em 1929, e dentro de quatro anos, Bandera tornou-se o seu líder. Em 1934, Bandera e outros líderes da ONU foram presos pelo assassinato de Bronislaw Pieracki, o Ministro polaco dos Assuntos Internos. Bandera foi libertado da prisão em 1938 e imediatamente entrou em negociações com o Quartel-General da Ocupação Alemã, recebendo fundos e tratando de providenciar treino Abwehr para 800 dos seus comandos paramilitares. Por altura da invasão nazi da União Soviética em 1941, as forças de Bandera consistiam em pelo menos 7,000 lutadores, organizados em "grupos móveis" que se coordenavam com as forças alemãs. Bandera recebeu 2.5 milhões de marcos alemães para realizar operações subversivas dentro da União Soviética. Depois de ter declarado um estado ucraniano independente sob a sua direcção em 1941, Bandera foi preso e enviado para Berlim. Mas manteve as suas ligações e o seu financiamento nazis, e os seus "grupos móveis" foram abastecidos e foi-lhes dada cobertura aérea pelos alemães durante o resto da guerra.
Em 1943, a ONU-B de Bandera efectuou uma campanha de exterminação em massa de polacos e judeus, matando uns estimados 70,000 civis durante apenas o Verão desse ano. Apesar de Bandera estar ainda na altura a comandar as operações da ONU-B desde Berlim, o programa de limpeza étnica foi dirigido por Mykola Lebed, o chefe da Sluzhba Bespeki, a organização de polícia secreta da ONU-B. Em Maio de 1941, num plenário da ONU em Cracóvia, a organização emitiu um documento, "Luta e Acção da ONU Durante a Guerra", o qual declarou, em parte, "moskali, polacos, judeus são hostis para nós e devem ser exterminados nesta luta". ("Moskal" é calão ucraniano depreciativo para "moscovitas", ou russos.)
Com a derrota dos nazis e o fim da guerra na frente europeia, Bandera e muitos líderes da ONU-B acabaram em campos de pessoas deslocadas na Alemanha e na Europa Central. De acordo com Stephen Dorrill na sua conceituada história do MI6, MI6: Inside the Covert World of Her Majesty's Secret Intelligence Service, Bandera foi recrutado para trabalhar para o MI6 em Abril de 1948. A ligação para os britânicos foi arranjada por Gerhard von Mende, um antigo nazi de topo que tinha chefiado a Divisão do Cáucaso do Ministério do Reich para os Territórios Ocupados de Leste (Ostministerium). Von Mende recrutou muçulmanos do Cáucaso e da Ásia Central para lutar ao lado dos nazis durante a invasão da União Soviética. Após o final da Segunda Guerra Mundial, ele trabalhou para os britânicos através de uma companhia de fachada, a "Research Service on Eastern Europe", a qual era uma agência de recrutamento principalmente para insurgentes muçulmanos que operavam dentro da União Soviética. Von Mende foi instrumental no estabelecimento de um grande centro de operações da Irmandade Muçulmana em Munique e em Genebra.
Através de von Mende, o MI6 treinou agentes da ONU-B e largou-os dentro da União Soviética para efectuar operações de sabotagem e de assassinato entre 1949 e 1950. Um relatório do MI6 de 1954 elogiou Bandera como "um trabalhador do submundo profissional com um passado terrorista e com noções impiedosas acerca das regras do jogo".
Em Março de 1956, Bandera foi trabalhar para o equivalente alemão da CIA, a BND, então chefiada pelo Gen. Reinhardt Gehlen, o chefe dos serviços secretos militares alemães na Frente de Leste durante a Segunda Guerra Mundial. Mais uma vez, von Mende foi um dos seus patrocinadores e protectores. Em 1959, Bandera foi assassinado pelo KGB na Alemanha Ocidental.
O assassino de topo da ONU-B de Bandera, Mykola Lebed, o comandante no local da polícia secreta do grupo, chegou ainda mais longe após o final da Segunda Guerra Mundial. Lebed foi recrutado pelo Corpo de Contra-Espionagem do Exército dos EUA (CCE) em Dezembro de 1946, e por altura de 1948, estava na lista de pagamentos da CIA. Lebed recrutou aqueles agentes da ONU-B que não foram com Bandera e o MI6, e participou em vários programas de sabotagem por trás da Cortina de Ferro, incluindo a "Operação Cartel" e a "Operação Aerodinâmica". Lebed foi trazido para a cidade de Nova Iorque, onde estabeleceu uma companhia de fachada da CIA, a "Prolog Research Corporation", sob o controlo de Frank Wisner, que era o chefe da Direcção de Planos da CIA durante os anos 1950. A Prolog operou até aos anos 1990, tendo sido em muito reavivada quando Zbigniew Brzezinski era o Conselheiro de Segurança Nacional de Jimmy Carter.
Em 1985, o Departamento de Justiça dos EUA lançou uma investigação ao papel de Lebed no genocídio durante a guerra na Polónia e na Ucrânia Ocidental, mas a CIA bloqueou a investigação e esta foi eventualmente largada. Contudo, em 2010, após a publicação de milhares de páginas de registos de guerra, os Arquivos Nacionais publicaram um relatório documental, Hitler's Shadow: Nazi War Criminals, U.S. Intelligence, and the Cold War, de Richard Breitman e Norman Goda, o qual incluiu um relato detalhado da colaboração nazi durante a guerra de Bandera e de Lebed e do envolvimento destes em execuções em massa de judeus e polacos.
É este legado Bandera-Lebed, e as redes que se formaram no período pós-guerra, que estão no centro dos recentes acontecimentos na Ucrânia.
Denunciando
A 25 de Janeiro de 2014, vinte e cinco líderes ucranianos de partidos políticos e organizações cívicas e religiosas, incluindo a antiga candidata presidencial e membro do parlamento Natalia Vitrenko, enviaram uma carta aberta ao Secretário-geral das Nações Unidas e aos líderes da UE e dos EUA, a condenar publicamente o apoio ocidental à campanha neonazi de realizar um golpe sanguinário contra um governo eleito legitimamente.
A carta aberta lia, em parte: "Vocês devem perceber que, ao apoiar as acções das guerrilhas na Ucrânia ... vocês próprios estão directamente a proteger, a incitar e a encorajar neonazis e neofascistas ucranianos".
"Nenhum destes opositores (Yatsenyuk, Klitschko e Tyahnybok) esconde que estão a continuar a ideologia e as práticas da ONU-APU ... Aonde quer que as pessoas da Euromaidan vão na Ucrânia, elas disseminam, para além das máximas acima mencionadas, símbolos neonazis, racistas … Confirmando também a natureza neonazi da Euromaidan está o constante uso de retratos dos executores sanguinários do nosso povo, Bandera e Shukhevych - agentes da Abwehr."
A carta aberta fazia a pergunta aos líderes ocidentais: "Deixaram a ONU, a UE e os EUA de reconhecer a Carta e o Veredicto do Tribunal Internacional de Crimes de Guerra de Nuremberga, em que os nazis hitlerianos e seus ajudantes próximos foram condenados? Deixaram os direitos humanos de ser um valor para os países da UE e da comunidade internacional? É a devoção dos nacionalistas ucranianos a Hitler e aos seus assassínios em massa de civis agora considerada democracia?"
Apenas nos dias recentes, com cenas de violência em grande escala por parte de manifestantes armados a atravessar finalmente o nevoeiro da propaganda, é que os média ocidentais pegaram no carácter neonazi da desestabilização em curso. A revista Time, colocou, a 28 de Janeiro, no título da sua cobertura feita desde Kiev "Rufias de Direita Estão-se a Apoderar da Insurreição Liberal da Ucrânia", caracterizando um grupo de "hooligans" neonazis chamado Spilna Sprava ("Causa Comum", mas as iniciais ucranianas soletram-se "SS") como estando perto do centro dos protestos.
No dia seguinte, a 29 de Janeiro, o The Guardian colocou num título "Na Ucrânia, Fascistas, Oligarcas e Expansão Ocidental Estão no Centro da Crise", com o rematar: "A história que nos é contada acerca dos protestos que decorrem em Kiev tem uma ligação à realidade feita apenas muito por alto". O repórter do The Guardian Seumas Milne escreveu candidamente, "Você nunca saberia através da maior parte das reportagens que nacionalistas de extrema-direita e fascistas têm estado no centro dos protestos e dos ataques a edifícios governamentais. Um dos três principais partidos da oposição a chefiar a campanha é o anti-semita de direita dura Svoboda, cujo líder Oleh Tyahnybok afirma que uma 'máfia moscovita-judaica' controla a Ucrânia. O partido, agora a gerir a cidade de Lviv, liderou uma marcha iluminada por tochas de 15,000 pessoas no início deste mês em memória do líder fascista ucraniano Stepan Bandera, cujas forças lutaram ao lado dos nazis na Segunda Guerra Mundial e participaram em massacres de judeus".
A Counterpunch publicou também, a 29 de Janeiro, um artigo de Eric Draitser, "Ucrânia e o Renascimento do Fascismo", que começou com o aviso: "A violência nas ruas da Ucrânia é muito mais do que uma expressão de ira popular contra um governo. É, em vez disso, meramente o último exemplo da ascensão da mais insidiosa forma de fascismo que a Europa viu desde a queda do Terceiro Reich ... Numa tentativa de tirar à força a Ucrânia da esfera de influência russa, a aliança EUA-UE-OTAN aliou-se, não pela primeira vez, com fascistas"."
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