A lenda do Dia Internacional da Mulher como tendo surgido na sequência de uma
greve, realizada em 8 de Março de 1857, por trabalhadoras de uma fábrica de
fiação ou por costureiras de calçado - e que tem sido veiculada por muitos
órgãos de informação - não tem qualquer rigor histórico, embora seja uma
história de sacrifício e morte que cai bem como mito.
Em 1982, duas
investigadoras, Liliane Kandel e Françoise Picq, demonstraram que a famosa greve
feminina de 1857, que estaria na origem do 8 de Março, pura e simplesmente não
aconteceu (1), não vem noticiada nem mencionada em qualquer jornal
norte-americano, mas todos os anos milhares de orgãos de comunicação social
contam a história como sendo verdadeira («Uma mentira constantemente repetida
acaba por se tornar verdade»).
Verdade é que em 1909, um grupo de mulheres
socialistas norte-americanas se reuniu num "party’, numa jornada pela igualdade
dos direitos cívicos, que estabeleceu criar um dia especial para a mulher, que
nesse ano aconteceu a 28 de Fevereiro. Ficou então acordado comemorar-se este
dia no último domingo de Fevereiro de cada ano, o que nem sempre foi
cumprido.
A fixação do dia 8 de Março apenas ocorreu depois da 3ª
Internacional Comunista, com mulheres como Alexandra Kollontai e Clara Zetkin. A
data escolhida foi a do dia da manifestação das mulheres de São Petersburgo, que
reclamaram pão e o regresso dos soldados. Esta manifestação ocorreu no dia 23 de
Fevereiro de 1917, que, no Calendário Gregoriano (o nosso), é o dia 8 de Março.
Só a partir daqui, se pode falar em 8 de Março, embora apenas depois da II
Guerra Mundial esse dia tenha tomado a dimensão que foi crescendo até à
importância que hoje lhe damos.
A partir de 1960, essa tradição recomeçou
como grande acontecimento internacional, desprovido, pouco e pouco, da sua
origem socialista.
(1) Se consultarmos o calendário perpétuo e
digitarmos o ano de 1857, poderemos verificar que o 8 de Março calhou a um
domingo, dia de descanso semanal, pelo que, em princípio, nunca ocorreria uma
greve nesse dia. Há quem argumente, no entanto, que, durante o século XIX, a
situação da mulher nas fábricas dos Estados Unidos era de tal modo dramática que
trabalharia 7 dias por semana.
Pesquisa efectuada por Maria Luísa V.
Paiva Boléo
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