A
invenção do amor
Em todas as
esquinas da cidadenas paredes
dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos
autocarros
mesmo
naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-
relhos de
rádio e detergentes
na vitrine
da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da
estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa
esperança de fuga
um cartaz
denuncia o nosso amor
Em letras
enormes do tamanho
do medo da
solidão da angústia
um cartaz
denuncia que um homem e uma mulher
se
encontraram num bar de hotel
numa tarde
de chuva
entre
zunidos de conversa
e inventaram
o amor com carácter de urgência
deixando
cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana
Um homem e
uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de
ternura
e souberam
entender-se sem palavras inúteis
Apenas o
silêncio A descoberta A estranheza
de um
sorriso natural e inesperado
Não saíram
de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora
subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor
subitamente imperativo
Um homem uma
mulher um cartaz de denúncia
colado em
todas as esquinas da cidade
A rádio já
falou A TV anuncia
iminente a
captura A polícia de costumes avisada
procura os
dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver
uma flor rubra e essencial
é possível
que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para
o mundo
É preciso
encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o
exemplo frutifique Antes
que a
invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas
sanções para os que auxiliarem os fugitivos
(....)
Nota de tripalio: o poema continua....e é genial
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