quinta-feira, 7 de junho de 2012

Na Celebração do Jubileu da Rainha, "god save the queen" , Sex Pistols

God Save the Queen», dos Sex Pistols: A rainha britânica vista pelos reis do punk
01 de junho de 2012

Em 1977, data de nascimento do punk, os Sex Pistols celebraram o Jubileu de Prata da Rainha à sua maneira, com "God Save the Queen". 35 anos depois, Isabel II comemora seis décadas no trono britânico, este sábado, e o single tem direito a reedição. "No future", mais uma vez? John Lydon, ex-vocalista do grupo, receia que sim.

Não é por acaso que "Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols" (1977), o primeiro (e único) disco dos Sex Pistols, é considerado um clássico do punk. As suas canções curtas e incisivas foram verdadeiros petardos contra o poder instituído e traduziram, tanto na sonoridade como nas letras, o grito de revolta de uma classe trabalhadora cansada de pedir para ser ouvida.

Temas como "Anarchy in the U.K.", "Problems", "Liar" ou "No Feelings" foram, logo pelos títulos, bastante diretos ao assunto nesse apontar de dedo, mas "God Save the Queen" ainda conseguiu ganhar-lhes, com alguma vantagem, nas doses de provocação e contestação. Roubando o título ao hino britânico e abordando-o com uma ironia pouco subtil, a canção foi um ataque explícito a Isabel II e partiu daí para desenhar um retrato nada otimista da Inglaterra de finais dos anos 1970.

Editado a 27 de maio de 1977, seis dias antes do Jubileu de Prata da Rainha (que assinalou os 25 anos da sua coroação), o single foi assim uma espécie de ode invertida que apontava a falta de humanidade da monarca, o seu regime fascista e insistia na inexistência de um futuro para o Reino Unido (ou não fosse "No future" um dos versos mais repetidos e emblemáticos da canção).
Embora os Sex Pistols tenham garantido que a edição de "God Save the Queen" nesta data foi uma coincidência, o que é certo é que o seu timing se mostrou certeiro: a polémica ficou devidamente instalada, com uma canção que abanou as estruturas e deu um sabor agridoce às celebrações, e as vendas do single resultaram num tremendo sucesso, apesar do boicote de meios como a BBC e de algumas lojas. Resultado: um dos hinos geracionais mais fortes de então e um dos temas-chave do punk, cuja influência dura até hoje e originou inúmeras versões ou apropriações de artistas tão diversos como Foo Fighters, Nouvelle Vague, Anthrax, The Enemy ou Madonna.



"No future", 35 anos depois

Se a edição de "God Save the Queen" pouco antes do Jubileu de Prata da Rainha pode ter sido uma coincidência, o mesmo não poderá dizer-se da sua reedição, há poucos dias. Este ano, a história repetiu-se e a nova chegada do single às lojas voltou a anteceder o Jubileu de Isabel II - neste caso o de Diamante, comemorativo dos seus 60 anos no trono, que se assinala neste sábado, 2 de junho.

John Lydon, no entanto, demarca-se desta iniciativa e atribui toda a responsabilidade à editora Universal e às suas tentativas de que o tema ascenda ao top dos mais vendidos. "Estou orgulhoso do que os Sex Pistols alcançaram, mas esta campanha questiona totalmente o que a banda representava. Fico feliz por uma nova geração poder ter o disco, mas não quero fazer parte do circo que está à volta disto", contou o ex-vocalista dos Sex Pistols, anteriormente conhecido como Johnny Rotten, à BBC News.

Noutra entrevista, ao New Musical Express (NME), feita a propósito do novo disco da sua banda atual, Public Image Ltd (PIL), o veterano do punk revelou como encara hoje a família real britânica: "Ainda não vejo uma ligação às pessoas normais. Venham dizer-nos 'olá'! À minha maneira estranha, fiz muitos apelos à família real para que nos venham cumprimentar. Intriga-me que ainda não o tenham feito...".

Mais comedido nessas observações do que nas dos tempos de "God Save the Queen", Lydon mostrou, contudo, que ainda consegue ser cáustico q.b. ao abordar a hipocrisia da Inglaterra de hoje: "Esses tipos da BBC e da ITV e de todos os outros canais são tãããoo anti-realeza. Nunca foram assim quando importava, na altura. Estão a colher os louros de algo para que nunca contribuíram. (...) E estão a fazer barulho em torno de assuntos e tópicos de que fugiam a sete pés. Por isso se tiver de apontar o dedo alguém, é a estes idiotas que estão a tentar deitá-los abaixo".

Ainda em entrevista ao NME, o vocalista comentou, com apreensão, os motins ocorridos em Londres em agosto do ano passado, que deram ao mundo algumas das imagens menos abonatórias do Reino Unido dos últimos tempos: "Fiquei muito incomodado com isso. É uma tragédia criada por um governo e uma força policial completamente indiferentes quanto ao futuro dos mais novos. Ninguém lhes oferece nada, ainda menos do que quando eu era jovem, e isso magoa-me muito. Os jovens não são cruéis por natureza, não querem sair e começar a matar. Só querem explodir e dizer 'Olá, nós existimos, este também é o nosso mundo', e não lhes são dadas oportunidades". (...) Vai levar a algo muito, muito pior. É palpável. Sente-se a tensão. Está a espera de explodir como uma bomba gigantesca. E vão culpar os miúdos das ruas, mas a culpa não é deles. Tenho uma vergonha profunda de um governo que não faz a mínima ideia do que se está a passar". Mesmo que o cenário não seja auspicioso, o ex-elemento dos Sex Pistols não dá a batalha por perdida e, na busca de alternativas, regressa a uma das expressões-chave de "God Save the Queen", nem sempre bem interpretada: "Como tenho explicado há mais de 30 anos, 'No future' significava 'Não há futuro se não fizeres por isso'. Se simplesmente aceitares o status quo e te limitares a ir com a corrente, não terás futuro. Às vezes temos de remar contra a maré...".

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