domingo, 10 de novembro de 2013

100 anos de Álvaro cunhal: Uma vida ao serviço de um ideal

Uma vida ao serviço de um ideal



Muitas foram as circunstâncias em que Álvaro Cunhal afirmou a actualidade do ideal comunista. Fê-lo nas horas boas dos grandes avanços revolucionários do século XX, mas também nas horas más das derrotas do socialismo ou do refluxo contra-revolucionário em Portugal. Um ideal pelo qual valeu e vale a pena lutar. Ideal que, como refere Álvaro Cunhal, «corresponde de tal forma às necessidades e aspirações mais profundas do nosso povo, que um dia dele será o futuro». Ideal que, em síntese, «é a libertação dos trabalhadores portugueses e do povo português de todas as formas de exploração e opressão» e se concretiza no projecto comunista de «construção em Portugal de uma sociedade socialista correspondendo às particularidades nacionais e aos interesses, às necessidades, às aspirações e à vontade do povo português – uma sociedade de liberdade e de abundância, em que o Estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem e da felicidade do ser humano». Ao longo da sua vida, Álvaro Cunhal agiu em coerência com este ideal e sempre com grande confiança no futuro.




As lutas contra o fascismo e o Rumo à Vitória
Muitas foram as lutas, o esforço para a construção de uma forte organização de classe dos trabalhadores, para a construção da unidade democrática antifascista e para o reforço do Partido, em que Álvaro Cunhal e o PCP se empenharam durante a ditadura fascista: as lutas sociais de 1943, as greves de 1944, o 1.º de Maio de 1962, a luta pela conquista das 8 horas de trabalho, os «passeios no Tejo», o apoio à luta de libertação dos povos colonizados, as lutas estudantis, entre muitas outras acções.
Em 1964, num período de ascenso das lutas em todas as frentes e de crescente isolamento da ditadura fascista, Álvaro Cunhal traça no Rumo à Vitória as bases para o programa do Partido para a Revolução Democrática e Nacional que viria a ser aprovado no VI Congresso.
 



Juventude: transformar o sonho em vida
Álvaro Cunhal nasce em Coimbra a 10 de Novembro de 1913, vive com a família em Seia e depois em Lisboa onde frequenta o ensino liceal. Em 1931 ingressa na Faculdade de Direito de Lisboa em 1931, filia-se no PCP e inicia a actividade revolucionária. Intervém no movimento estudantil. Assume responsabilidades na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas. Participa no VI Congresso da Internacional Juvenil Comunista. Integra-se no trabalho clandestino do Partido. Preso e torturado, resiste. Realiza (sob prisão) o exame de licenciatura com a tese «O aborto. Causas e Soluções». Por razões políticas, cumpre o serviço militar como soldado «corrécio».
 



Prisões: tenacidade, abnegação e coragem
Álvaro Cunhal foi preso por três vezes (1937, 1940 e 1949). Passou nas prisões do fascismo cerca de 12 anos, oito dos quais em situação de isolamento. Foi torturado. Apesar das duras condições prisionais, das torturas, das privações e do isolamento, resistiu. Manteve um permanente trabalho na prisão (desenhou, pintou, leu, escreveu,
manteve-se ligado e activo na organização do Partido). Participou na organização e concretização da evasão da cadeia do Forte de Peniche, a 3 de Janeiro de 1960, que representou um duro golpe na ditadura fascista.



Reorganização, construção e defesa do Partido
Participa na reorganização do Partido de 1940-1941 e dá um contributo decisivo para os seus avanços nos III e IV Congressos. Intervém na correcção do desvio de direita dos finais dos anos 1950 e combate o oportunismo de direita, o esquerdismo, o dogmatismo e o sectarismo.
Desenvolve um papel notável na definição da estratégia e táctica do Partido e na definição do seu programa para a Revolução Democrática e Nacional. Tem um papel destacado na formulação do programa «Portugal: uma Democracia Avançada no Limiar do século XXI». Dá um importante
contributo para a concepção do Partido como grande colectivo partidário e na sistematização dos traços essenciais da identidade comunista.
 




25 de Abril: derrubamento do fascismo
Dois levantamentos (um militar seguido de outro popular) marcariam o arranque do processo revolucionário de Abril, revolução libertadora que Álvaro Cunhal considerou como «um dos mais altos momentos da vida e da história do povo português e de Portugal». Como Secretário-geral do PCP, participou na definição da orientação do Partido durante todo o processo revolucionário: na acção de massas, na organização e reforço do PCP e na acção institucional. Foi intensa a actividade de Álvaro Cunhal e do PCP no desmantelamento do Estado fascista, na instauração do regime democrático e no aprofundamento das conquistas de Abril.
 


Processo Revolucionário e conquistas de Abril
A Revolução de Abril pôs fim a 48 anos de fascismo, pôs fim à guerra colonial, alterou profundamente o enquadramento de Portugal na cena internacional e realizou profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais: as nacionalizações, a reforma agrária, o controlo operário, os direitos dos trabalhadores, o direito à greve e à contratação e negociação colectivas, de organização sindical e de constituição de comissões de trabalhadores, o salário mínimo nacional, os direitos à saúde e à educação, a melhoria das condições de vida do povo, o poder local democrático, as autonomias regionais, o regime democrático, são, entre outras, importantes conquistas de Abril, que a Constituição da República Portuguesa viria a consagrar.  
 



Resistência a contra-revolução
Iniciada a contra-revolução, o Partido Comunista Português estimula e dinamiza a resistência. Assume um combate firme (e sem tréguas) a recuperação capitalista, latifundista e imperialista desencadeada por sucessivos governos (do PS e PSD, com ou sem o CDS) apostados em prosseguir a política de direita. Política que, iniciada há trinta e sete anos, prossegue nos nossos dias pelas mãos do Governo PSD/CDS, assumindo novos e mais perigosos desenvolvimentos no pacto de agressão assinado pelo PS, PSD e CDS com o FMI, BCE e UE. No entanto, uma vigorosa e continuada luta de massas e a acção de reforço do Partido dificultaram essa marcha de retrocesso civilizacional e permitiram defender importantes conquistas e valores de Abril, que a nossa Constituição continua a consagrar.
 


Internacionalista convicto
Álvaro Cunhal salientou que a luta dos trabalhadores e do povo português é parte integrante do processo mundial de emancipação social e nacional dos trabalhadores e dos povos. Na sua obra teórica e na acção revolucionária internacionalismo e patriotismo são inseparáveis. A solidariedade com os movimentos de libertação nacional e os povos vítimas da opressão e da violência imperialista, o empenhamento para o fortalecimento e unidade do movimento comunista e revolucionário internacional e deste com outras forcas progressistas e anti-imperialistas foi uma constante na intervenção de Álvaro Cunhal. E inestimável o seu contributo para a analise do desenvolvimento do processo revolucionário mundial e do papel dos partidos comunistas, do capitalismo, da necessidade e da actualidade do socialismo.



Uma grande homenagem
 Álvaro Cunhal morreu com 91 anos em 13 de Junho de 2005 e o seu funeral, dois dias depois, com a participação de centenas de milhares de pessoas, constituiu uma extraordinária homenagem dos comunistas, dos democratas e patriotas, dos trabalhadores e do povo a quem dedicou a sua vida

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